segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Cabines, pássaros e viagens.


- o que você espera?
- um trem que talvez nunca venha.
- e o que tem dentro dele?
- não sei... talvez um passaro...

Parece que vemos algumas possibilidades.
Supondo que o trem chegue, de uma viagem deveras longa, nele temos um pássaro.
Esse pássaro pode chegar até o fim da viagem. Mas, se fosse um bem-te-vi, provavelmente não aguentaria, por conta de sua fragilidade e da efemeridade de sua vida. Mas se esse fosse um falcão, ele teria mais chances de aguentar o percurso. Não sabemos, porém, se ele aguentaria esperar dentro da cabine até a chegada em seu destino.

Dentre tais explicações chegamos até:
1) O pássaro chega no final
2) O pássaro não aguenta e morre
3) O pássaro vê a vida passando do lado de fora da cabine e se vai.

Mas... Quantas cabines existem em um trem?
Talvez não deva prender-se às possibilidades de apenas uma. Sabe-se lá o que existe em cada uma delas.
E se dentro de cada cabine houver um pássaro, como na primeira?
Alguns não vão aguentar o percurso como o bem-te-vi, é verdade.
Alguns vão procurar o lado de fora como o falcão, é verdade.
Alguns serão buscados na chegada.
Só que talvez exista um que não morreu, não fugiu e foi esquecido. O da última cabine, talvez. Talvez ele até tenha nascido no meio da viagem. Ela foi tão longa que deu margem para que acontecesse.
Se o pássaro nasceu, surgiu agora, ele não canta. E se não canta é só e somente só porque não sabe ainda. Só precisa de tempo. Tempo pra aprender as melodias, tempo pra conseguir voar e tempo para as penas crescerem por completo.
Se existir paciência, esse estranho, mais novo, sem penas e que não canta talvez venha a ser o mais bonito e que tem o mais belo canto dentre todos aqueles outros que fizeram a viagem com ele.
Mas, se esse mesmo em que deposito uma breve fé no futuro não aguentar e se for, estamos numa estação.
Os trens vão e vem todos os dias e todos eles tem cabines.
E em cada cabine, mais uma provável surpresa.
Talvez não existam mais pássaros.
Mas com certeza existirá algo que faça os dias valerem a pena.
E mãos, e bocas, e pernas, e olhos, e rostos, e abraços, e risos, e sentidos, e...

2 comentários:

Gota de Chuva disse...

Pássaros que nascem em meio a viagens, não sabem cantar é bem verdade, mas se tornan mais resistentes aos obstáculos do percurso. Foi na turbulência de uma mudança que ele foi gerado, isso faz dele um filho do caos, do surpreendente , do divino.
Sentimentos são como pássaros. Voam, pousam e as vezes ficam, mas se a viagem for mais interessante ele vai embora. Seja um pouso cômodo e o tal pássaro terá necessidade de permanecer na estação.

Maria Helena Sobral disse...

Longas viagens trazem bons frutos, inclusive pássaros...
Encantador, mais ainda quando baseado em fatos reais!

=)