Aí você decide: vida, quem manda nisso aqui agora sou eu, ta bom? Eu. Ouviu?
Você enxuga os olhos, seje homem! desamarrota as roupas, estala todos os ossinhos enferrujados do comodismo de ficar parada no mesmo canto durante tanto tempo, pega o mapa e prepara a trajetória. Caminho escolhido. Tudo bem, só rumar agora.
Anda, anda, anda. Eu que mando, eu decido.
Aí, você sente um cheiro doce no ar e se distrai na caminhada porque ele te traz umas lembranças antigas. E nem nota que a vida tava escondidinha numa moita de mato seco disfarçada de cascavel. Ainda balançava o chocalho pra fazer barulho só de brincadeira com a sua cara. Ela sabia que você não ia prestar atenção mesmo.
Aí você continua andando distraída com o cheiro pela nova estrada de tijolos amarelos escolhida. E então, aquela dor aguda, o sangue escorrendo pelo tornozelo, aquele gritinho de susto. Aí você olha pros lados e vê a vida-cascavel que te deu um bote e ta ali, rindo de você.
- Eu não disse que agora EU escolheria?
- É, minha velha, disse. Pense bem, querer não é poder. Olhe bem na sua frente esses tijolos amarelos. Olhou o mapa até o final? Não? Não consegue ver o final completo, não é mesmo? Fui eu que o desenhei. Olhe mais em frente, vê ali o resto do caminho? Oras, deixe de ser criança e tire essa fita dos seus olhos, todo caminho tem lindos tijolinhos dourados no começo, a gente coloca eles lá e nem presta atenção. Vê que você não pode fugir do que já foi traçado. Já escolheu um caminho, não foi? Pois bem, siga com ele até o final, não dá pra voltar e começar tudo de novo. Eu só dou as canetas, não as borrachas, não dá pra apagar. Tirou a fita? Agora olhe bem em frente pro lugar que você está tentando ir agora. Presta atenção, ele termina no mesmo lugar que o seu primeiro caminho, fugir não adianta. Você só vai demorar mais pra chegar no destino final, vai encontrar mais espinhos pra rasgar o vestido, e mais lama pra sujar essas sapatilhas, somente. O final, você já escolheu, se lembra?
Oras, eu sei, a mordida doeu. Sempre dói quando eu mordo, pare de reclamar e deixe de ser menina chorona. É pra ver se dessa vez, você abre os olhos, coopera comigo e deixa de fugir.