O texto não é bom. Também não tem título, mas tenho um carinho especial por ele. Foi o primeiro que escrevi nesse formato. E achava que o havia perdido, mas, por sorte, Wanilson ainda tinha no computador. Bem, agora não o perco mais. Segue o texto:
Estive pensando sobre o tempo e notei que, os relacionamentos, sobretudo os frustrantes, são ótimos marcadores deste.
Passei duas situações verbais completamente banais. Creio que dificilmente alguém notaria algo de relevante nisso, mas minha mania de ler Clarisse Lispector me deixou assim. Meio atenta ao que, geralmente, passa despercebido.
A primeira situação me divertia. Finalmente havia conseguido dar risadas no fim de semana, graças ao meu interlocutor. Vivo a dizer que ele me diverte, o que é bem verdade. Falávamos sobre o que já havia acontecido entre nós, mas nada de sério, nada demais. Só uma conversa corriqueira, na nossa falta de assunto da noite. E me deu uma certa curiosidade quando meu interlocutor se mostrou de alguma forma impaciente com minhas resoluções. Eis que fui no calendário, naquele relógio que fica no final da barra de tarefas do computador, o que fica do lado oposto ao botão "iniciar". Voltei ao mês de julho. Não sabia uma data certa dos acontecimentos, mas tinha uma noção do dia da semana e o procurei. Achei engraçado porque, quando fui falar qual era a data certa, atinei que tudo havia acontecido há - exatamente - isso mesmo, exatamente um mês. Me deparei com isso num domingo sem graça, de um fim de semana sem graça, que não fazia questão de existir. Um mês. Um mês? Mas um mês é muito! mas já passou, por incrível que me pareça.
A segunda situação se deu numa segunda-feira após o domingo citado acima, fim de aula, na saída da faculdade, depois de um debate sobre lingüistica que me abalara emocionalmente. Gosto de falar informalmente, mas não sou boa com avaliações. Estávamos a três conversando. E estes interlocutores nada tem haver com o da primeira situação, apenas para esclarecimento, se houverem dúvidas futuras. Essas duas pessoas conversavam sobre alguma outra que desconheço e, o interlocutor que nos interessa, de repente mostrou uma fúria diante da situação que o outro havia descrito. Vale salientar que a situação descrita não era de necessária de tal fúria. Fúria essa que realmente me assustou. Não conhecia aquele outro lado da moeda. Num impulso fiz uma colocação com toda a minha entonação de gracejo costumeira. Desculpem-me os que se desagradam, mas dificilmente consigo tratar das coisas com seriedade. Minha veia irônica não deixa e, convenhamos, sempre é hora de soltar uma risada que seja.
- que brabeza! na minha época não era assim não!
- mas a tua época foi há quanto tempo? um mês...!
- faz mais...! (certo, só falei isso para não ficar por baixo.)
Oras! um mês novamente! um pouco mais, mas não importa. Essa segunda situação foi mais dolorosa, assumo. Mas não havia parado pra pensar que realmente havia se passado um mês somente. Mês esse que parecia ter se multiplicado bastante.
Na hora que ouvi senti um vazio. Não sei se, por parecer muito mais, me deu a impressão de ter algumas lacunas nisso tudo. Mas eu não poderia ter vivido mais do que vivi nesse espaço. O mês teve espaço de um mês como sempre, como qualquer outro. Um mês de férias é bem verdade, mas não deixou de ser um mês, talvez vivido um pouco mais intensamente, apesar dos pesares.
Duas situações tão bestas, tão banais, tão óbvias, mas me fizeram pensar. Sim, é tudo muito efêmero e escorre por entre os dedos que nem percebemos. Aí a gente se depara com uma situação de susto parecida com a minha e pensa "mas já?" já. Já, sim, por pior(ou melhor) que isso seja. Essa efemeridade me fez viver, aproveitar muita coisa. Levou embora o que eu aproveitei, mas talvez não devesse ter feito, levou pessoas, sentimentos, lembranças. (Lembrei que hoje eu podia não estar viva.)
O tempo é um mecanismo abstrato, não palpável, porém vivo.
Tem coisas que ensinam que a gente deve, realmente, a aproveitar enquanto podemos, com quem podemos. A última vez nunca avisa que é ela e que o momento é aquele, aí a gente se depara com aquele choque de realidades. A que estava nas mãos e a que deixou (ou foi deixada) para trás. E nem sempre se tem conserto, por mais que desejemos.
Viver, sim, mesmo que carregando uma dor qualquer. É que já dizia Cazuza, "o tempo não para".